Escudo de azul, com um castelo de prata aberto e iluminado de negro. Em chefe, uma águia de prata realçada de negro e bicada, lampassada e armada de vermelho. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres a negro : " VILA DE AGUIAR DA BEIRA ".


Em 1708

  • No Bispado, & Provedoria de Vizeu
  • Duas legoas ao Poente de Carapito, & tres de Trancoso está fundada a Villa de Aguiar, a quem deo foral no anno de 1258 El Rey Dom Affonso o Segundo com sua mulher Dona Urraca.
  • Tem forte castello, & huma torre com seu Relogio: consta de 160 visinhos; pessoas mayores 490; menores 36.
  • Com huma Igreja Parroquial da invocação de Sãnto Eusebio, Vigairaria do Padroado Real & Comenda da Ordem de Christo, que rende quatrocentos & cincoenta mil reis.
  • Tem dous Juizes ordinarios, tres Vereadores, hum Procurador do Concelho, Escrivao da Camera, Juiz dos Orfaos com seu Escrivao, dous Tabelliaens do Judicial, & Notas, hum Almotace, hum Alcayde , & hum Capitao mór com seis Companhias da Ordenança da Villa, & seu termo, o qual he abundante de paõ, vinho, azeite, frutas, gado, & caça, 
  • Tem as Freguesias seguintes:
    • O Espirito Santo do lugar da Cortiçada, Curado que apresenta o Vigario de S. Pedro de Coruche , tem 130 visinhos, pessoas mayores 360, menores 62.
    • S. Pedro de Valverde, Curado da mesma apresentaçao, tem 120 visinhos, pessoas mayores 240, menores 50.
    • N. Senhora da Conceição do Eyrado, Curado da mesma apresentaçao, tem 80 visinhos, pessoas mayores 238, menores 30.
    • S Sebastiao do Souto, Curado da mesma apresentação, tem 125 visinhos, pessoas mayores 342, menores 70.
    • S. Antonio do Pinheiro, Curado que apresenta o Vigario de Sănto Eusebio da Villa de Aguiar, tem 80 visinhos, pessoas mayores 250, menores 50.
    • S. Sebastiaõ de Siqueiros , Curado que apresenta o mesmo Vigario de S. Eusebio; tem 73 visinhos, pessoas mayores 150, menores 30
    • N. Senhora das Neves de Gradiz, Curado da mesma apresentaçaõ, tem 82 visinhos, pessoas mayores 120, menores 22.
    • S. Pedro de Coruche, Vigayraria do Padroado Real, & Comenda da Ordem de Christo, q rende mil cruzados, tem 70 visinhos, pessoas mayores 180, menores 30.
  • He senhor desta Villa o Conde deVimioso, que nella apresenta as Justiças.

("Chamaram-se visinhos antigamente em Portugal os que eram admittidos a terem bens, e herdades no termo de algumas villas, concelhos, ou cidades, que de novo se povoavam" - Viterbo) .

in Corografia Portuguesa, pág. 287


1747

  • Villa na Província da Beira,
  • Bifpado de Vifeu,
  • Comarca de Pinhel,
  • Arcipretado de Pena Verde:
  • conta de oitenta moradores.
  • Etá fundado em hum alto monte , donde fe defcobrem a Villa de Línhares diftante fete léguas, e na me{ma diftancia a Cidade da Guarda, a Villa de Trancofo, da qual dita duas léguas ao Poente, e outras tantas da grande ferra da Etrella.
  • Deu-lhe foral no an no de 1258 ElRey Dom Afonfo II. com fua mulher D. Urraca.
  • Tem forte Castello , e Termo seu, que comprehende os Lugares, e Aldeas feguintes:
    • Valverde, Eira do Souto, Siqueiros, Gradiz, Pinheiro, Cortiçada, Fonte-Arcadinha, Sorgaçaes, Coruche, Aldeas, Quintas da Serva, Açores e Coja, Lameiras, Corvaca, Carregaes, Baranha, Antella, Sanginheira, Moçafra, Liziria, Pedro Ferreiro, Machurio, Seixo, e Ponte do Abbade.
  • Tem toda a Freguesia cento e sessenta vizinhos, e o Termo oitocentos e cincoenta.
  • A Igreja Paroquial está fora do Povoado; porém contígua a ele para a parte do Oriente: a Vigairaria do Padroado Real, e Commenda da Ordem de Christo, que rende quatro centos e cincoenta mil reis.
  • O seu Orago he Santo Eusebio:
  • tem tres Altares, o mayor com sua tribuna, onde se venera a Imagem do Santo Padroeiro: à parte do Evangelho o de N. Senhora, e Santa Catharina de Sena; e à parte da Epistola S. Jofeph, e S. Miguel com huma Irmandade de Sacerdotes, e alguns Leigos : e dous collateraes; no da parte do Evangelho está N. Senhora do Rosario ; e no da parte da Epistola S. Sebatiaõ, o Menino Jesus, e hum Santo Christo Crucificado, todas de vulto. Ele bastante mente grande, porém muito mal paramentada por ser pobre de porco, que lhe daõ da Commenda da mesma Igreja, de que o Comendador Jofeph de Saldanha e Sousa.
  • Apresenta o Vigario os Curatos de Siqueiros, Gradiz, e Pinheiro. Paga-se mais da Commenda a hum Coadjutor sete mil e cem reis em dinheiro, e o pé de Altar, que he muy limitado por ser Freguesia pequena, e terra frígidissima; e por esta causa pouco fertil, e nela se naõ colhe mais que algum centeyo, e milho em pouca quantidade, e da mesma forte trigo, e naõ tem vinho, nem azeite.
  • Ha na Villa Casa de Mifericordia, pequena, pobre, e muito antiga, com hum Altar, e no retábulo delle pintada a Imagem da Senhora visitando a Santa Isabel. Ao pé tem casa terrea, que corre por conta da Misericordia, onde se recolhem alguns pobres passageiros: naõ se sabe sua origem ser antiquissima.
  • Na Dominga de Ramos se faz Procissaõ de Passos, cujos Sermões paga o Provedor de fua Café por naõ abranger tanto gato a pobreza da Mifericórdia. Tem tres Ermidas, huma de N. Senhora do Catello com tres Altares, o mayor em que fe venera a Imagem de N. Senhora da Purificaçaõ de vulto, e dous colateraes; à parte do Evangelho lho tem N. Senhora do Prefepio; e à parte da Epitola etá Santa Cathari na: he Cala muito antiga, e tomou o nome de hum catello, que etájunto a ela já demolido, e arruinado, que dizem ler do tempo dfora da Villa para a parte Occidental defla Capella, da qual ele adminiftra dora a Camera da me{ma Villa, e naõ ha noticia, nem conta do Cartorio quem foffe feu fundador. Acha-fe na parede da maõ efquerda huma fepultura, que dizem foy do fundador da dita Capella, e que era afcendente de Chriftovaõ de Sá e Albuquerque da Villa de Celorico, defcendente deta Villa de hum Rodrigo Saraiva, pef> foas de nobreza antiga, e conhecida: . tem batante rendimento para ornato da Cafà ; a Imagem milagrofa. Ha aqui outra Ermida pequena de Santia go, de que ele adminiftrador Afcenfo de Figueiredo. Eftas duas Capelas fi caõ na me{ma altura da Villa; eo caf tello derrubado, e demolido, muita parte dele, que eftá ao pé della ainda cítá mais alto por caula da afpereza da terra: tudo ifto etá no me{mo outei ro, em que etá a Villa. Contíguo à Cala da Mifericórdia, dentro da Villa, cítá huma Ermida pequena com hum fóAltar, e nele huma Imagem de S. João Bautita em vulto, dá qual he adminiftrador hum João da Fonfeca da melima Villa. Todas etas Ermidas faõ pouco frequentadas de romeiros. Tem dous Juizes ordinarios, tres Vereadores, hum Procurador do Concelho, Efcrivaõ da Camera, Juiz dos Orfãos com feu Efcrivaõ, dous Tabel liaens do Judicial, e Notas, hum Al motacé, hum Alcaide, e hum Capi taõ mór com feis Companhias da Ordenança da Villa, e feu Termo. To das etas Juticas reconhecem fugeiçaõ ao Ouvidor da Comarca de Linhares. Teve antigamcnte familias no bres, que acabaraõ por caufa da pobre za, e ainda hoje ha alguns lavradores honrados, que fervem os cargos nobres da Republica. Conta de Provifoens antigas, que fe guardaõ na arca da Câmara, que os Senhores Reys antigos concederam graves privilégios a eta Villa, os quaes etaõ acabados por terem visto fido de vários Senhores depois dif> fo. Nella fe faz hum mercado franco nos fegundos Domingos dos mezes, que dura fomente meyo dia, onde fe ajuntaõ alguns boys, e porcos, e ou tras coutas cometiveis. • Tem hum chafariz para a parte do Nafcente de boa água, feito na era de 1577, onde bebem os paflageiros, e criações da Villa: lança batante agua de Inverno, e de Veraõ nunca feca. No meyo da Villa ha hum poço, que pela fua fabrica motra fer antiquifi mo, com fuas ameyas, e nelas as Ar mas Reaes, e fobre o mefimo poco tem paffeyo, que ferve de praça à Ca mera, e ahi melmo fica a torre do relogio, alta, e de muito boa pedra ria com feu fino muito bom, e ao pé a cala do Senado muito boa, e ca dea, indicios todos de fer efta Villa antigamente povoaçaõ nobre , e de muita conta. A entrada da Villa, pa ra a parte do Sul, vê-se uma Cruz de pedra batantemente alta. Ditante da Villa fica a ferra chamada do Poyo, que faz a terra mimofa com a caça, que em fi cria, afim do ar, como rafteira, de perdizes, e coelhos. e de Veraõ nunca feca. No meyo da Villa ha hum poço, que pela fua fabrica motra fer antiquifi mo, com fuas ameyas, e nelas as Ar mas Reaes, e fobre o mefimo poco tem paffeyo, que ferve de praça à Ca mera, e ahi melmo fica a torre do relogio, alta, e de muito boa pedra ria com feu fino muito bom, e ao pé a cala do Senado muito boa, e ca dea, indicios todos de fer efta Villa antigamente povoaçaõ nobre , e de muita conta. A entrada da Villa, pa ra a parte do Sul, vê-se uma Cruz de pedra batantemente alta. Ditante da Villa fica a ferra chamada do Poyo, que faz a terra mimofa com a caça, que em fi cria, afim do ar, como rafteira, de perdizes, e coelhos. e de Veraõ nunca feca. No meyo da Villa ha hum poço, que pela fua fabrica motra fer antiquifi mo, com fuas ameyas, e nelas as Ar mas Reaes, e fobre o mefimo poco tem paffeyo, que ferve de praça à Ca mera, e ahi melmo fica a torre do relogio, alta, e de muito boa pedra ria com feu fino muito bom, e ao pé a cala do Senado muito boa, e ca dea, indicios todos de fer efta Villa antigamente povoaçaõ nobre , e de muita conta. A entrada da Villa, pa ra a parte do Sul, vê-se uma Cruz de pedra batantemente alta. Ditante da Villa fica a ferra chamada do Poyo, que faz a terra mimofa com a caça, que em fi cria, afim do ar, como rafteira, de perdizes, e coelhos. e ahi melmo fica a torre do relogio, alta, e de muito boa pedra ria com feu fino muito bom, e ao pé a cala do Senado muito boa, e ca dea, indicios todos de fer efta Villa antigamente povoaçaõ nobre , e de muita conta. A entrada da Villa, pa ra a parte do Sul, vê-se uma Cruz de pedra batantemente alta. Ditante da Villa fica a ferra chamada do Poyo, que faz a terra mimofa com a caça, que em fi cria, afim do ar, como rafteira, de perdizes, e coelhos. e ahi melmo fica a torre do relogio, alta, e de muito boa pedra ria com feu fino muito bom, e ao pé a cala do Senado muito boa, e ca dea, indicios todos de fer efta Villa antigamente povoaçaõ nobre , e de muita conta. A entrada da Villa, pa ra a parte do Sul, vê-se uma Cruz de pedra batantemente alta. Ditante da Villa fica a ferra chamada do Poyo, que faz a terra mimofa com a caça, que em fi cria, afim do ar, como rafteira, de perdizes, e coelhos.

in "Diccionario Geografico", do Padre Luiz Cardoso, editado em 1747)


1867

  •  Villa,
  • Beira Alta,
  • comarca do Trancoso,
  • situada na alta serra da Lapa, d'onde se descobre a villa de Linhares (a 40 kilometros de distancia) Guarda e Trancoso (a 12 kilometros a O.)
  • Dista da serra da Estrella 12 kilometros, 30 de Vizeu, 310 de Lisboa.
  • 250 fogos.
  • Concelho 1:600.
  • Orago Santo Eusébio.
  • Bispado de Vizeu,
  • districto administrativo da Guarda.
  • Esta villa, ainda que pequena, é muito antiga. D. Thereza, mãe de D. Affonso I lhe deu foral em 1120, confirmado por D. Affonso II em Santarém, em 1220, e que D. Affonso III e sua mulher reformaram em 12 de julho de 1258. Viterbo diz que o seu primeiro foral lhe foi dado por D. Affonso Henriques; mas é provável que fosse sua mãe e elle, como era costume. Aguiar já era concelho e já tinha Castello no tempo do nosso primeiro rei; mas parece-me que era o castello romano, e que o mais moderno é obra (e não reedificação) de D. Diniz. D. Manoel lhe deu foral novo, em Lisboa, a 4 de maio de 1502 ou 1512.
  • Tem um castello feito (ou reedificado) por D. Diniz, que foi muito forte.
  • Tem casa de Misericórdia, que é antiquíssima.
  • Os nossos primeiros reis concederam grandes privilégios a esta villa.
  • Tem um bom chafariz, feito em 1577. No meio da villa ha um poço antiquíssimo, com suas ameias e n'ellas as armas de Portugal, e sobre o mesmo poço tem um passeio que serve de praça á camara e ahi mesmo fica a celebre torre do relógio, muito antiga, muito alta, de boa cantaria e muito bem conservada. Está pegada á casa da camara.
  • Esta villa foi dos condes de Vimioso, que apresentavam as justiças ; mas depois passou para a casa do infantado. Foi também cabeça de condado.
  • Próximo ao logar de Sismeiro (onde hoje está a Capella da Senhora do Mosteiro) esteve um convento de freiras benedictinas, parte das quaes Almançor fez martyrisar em 985, levando captivas as restantes, que foram remidas no combate da Veiga da matança. Este convento foi pelos annos de 1600 dado aos jesuítas, e por a sua extincção se deu aos bispos de Vizeu.
  • Ao pé da Capella de Nossa Senhora do Castello estão as ruínas de um castello romano, de cantaria. Também perto d'esta Capella existiu a egreja de S. Pedro (ainda existem as ruínas da antiga matriz e da respectiva residência n'um pequeno valle, ainda chamado de S. Pedro, ao sul da villa) antiga matriz da freguezia, que por ser distante da villa, e por se partir a commenda de Christo (do real padroado) metade para Santo Eusébio de Aguiar e metade para S. Pedro de Coruche, foi abandonada, erigindo se em egreja parochial a de Santo Eusébio. As más línguas, porém, attribuem o abandono da egreja de S. Pedro ao apparecimento da cabicanca, celeberrima e medonha passarola, que atterrou os aguiarenses.
  • Conta-se assim o caso.
    • Appareceu aqui, ha séculos, uma cegonha que foi fazer o seu ninho na torre da egreja matriz (S. Pedro) como é do costume d'estas aves. O povo ficou horrorisado á vista de tão monstruoso pássaro (a que deu o nome de cabicanca) e não só deixou de ir alli á misssa, mas até de transitar por aquelles sítios. O mesmo parocho fugiu da residência com a sua família, e foi celebrar os officios divinos na Capella de Santo Eusébio, ao N. da villa e actual matriz.
    • Andava o povo assim atterrado, quando aconteceu passar por alli Martinho Affonso (de alcunha Escorripicha, e de profissão almocreve) armado de uma espingarda, arma recentemente descoberta. Vendo elle que a villa estava mergulhada em profunda magua, desamparando o povo d'ella a agricultura, os negócios, os divertimentos etc, etc, e curando somente de se preparar para o juizo final, que julgava próximo, se compadeceu de tanta desgraça e prometteu dar-lhe remédio. Dirige-se á egreja, espera que o passaro saia do ninho, aponta, dispara e... zás ! ferra com a cabicanca estatelada morta no meio do chão. O povo, ao estrondo do tiro e aos gritos victoriosos do cabicanquicida, corre em tropel a ver o enorme bico, o esgalgado pescoço, as longas pernas e o feio corpo do bicho. Todos o queriam ver ao mesmo tempo, pelo que houve pancadaria a valer (dizem alguns que houve até mortes, mas o auto da cabicanca não o diz).
    • Não se pôde descrever a alegria d'esta gente, nem as festas que fizeram a Martinho Affonso, que foi levado em triumpho por toda a villa, dando-se os mais frenéticos vivas, muitos presentes e grande numero de garrafas de vinho (de que o almocreve pelos modos era grande amador) dizendo-lhe todos «escorripicha» e elle escorripichava, e d'isto lhe ficou a alcunha de Escorripicha.
    • Passados oito dias das mais estrondosas demonstrações de jubilo e agradecimento, se foi o bom do meu amigo Escorripicha seguindo a sua jornada, coberto de presentes, coroado dos louros da Victoria e com um nome immortal que irá de geração em geração até á mais remota posteridade. O parocho ficou pedindo em todos os domingos um padre nosso por Martinho Affonso, destruidor da cabicanca.
  • Advirto porém aos que forem a Aguiar da Beira e tiverem amor ás costellas, que não fallem alli na cabicanca nem no escorripicha, senão, depois não se queixem !
  • A feira d'esta villa foi instituída por D. Diniz, pelos annos 1300 (quando fez ou reedificou o Castello). Era ao principio no primeiro domingo de cada mez e durava tres dias. Tendo-se opposto o bispo (de Vizeu) por se fazer aos domingos, D. João I (em 1408) mandou que ella se fizesse nas segundas, terças e quartas (primeiras de cada mez).
  • Era vigariaria do real padroado e commenda de Christo.

in "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal


Autorizada a utilização das imagens desde que indicada a sua proveniência.

Faça os seus comentários, sugestões e críticas.

Ajude-nos a melhorar.

Comments: 0